Sobre o
livro
Título
Original: Ninguém nasce herói
Autora: Eric Novello
Páginas: 380
Editora: Seguinte
O Brasil já não é um país
acolhedor e sorridente, hoje o país verde e amarelo olha para baixo com medo. O
que um dia foi pais era colorido e étnico, mas hoje olha por cima dos ombros
com medo de estar sendo perseguido por algum maníaco. Hoje existe um pais
fundamentalista que não tolera minorias – gays, lésbicas, transexuais, travestis,
negros, praticantes de outras religiões que não cristã.
E tudo isso piorou quando a
população elegeu para presidente um político com nome de “Escolhido”, um homem
que mergulhou o Brasil numa república de ódio e opressão.
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Capa Do Livro |
“O Brasil começou a se tornar um país fundamentalista muito antes do Escolhido se candidatar à presidência. Quando ele era apenas um deputado bagunceiro a Comissão de Direitos Humanos, todo mundo falou: ‘Uma hora esse cara desaparece’. Quando ele assumiu a presidência da Câmara dos Deputados, todo mundo falou: ‘Exposto dessa maneira, logo ele será investigado e desaparece’. Quando ele comandou a votação para acabar com os antigos direitos trabalhistas, todo mundo disse: ‘Nem o partido dele vai apoiar isso, logo ele some, desaparece’. Quando impôs o Estatuto da Família, todo mundo falou: ‘Isso é só para aparecer, logo ele desaparece’. E assim, servindo aos propósitos daqueles que o financiavam, ele se tornou presidente.”
Na cinzenta São Paulo,
acompanhamos Chuvisco, um jovem recém formado que começou a carreira de
tradutor. Chuvisco age a margem da lei entrando juntos de dois amigos livros de
conteúdo fictícios underground – vampiros, lobisomens, pessoas com poderes
paranormais. Toda vez que ele consegue distribuir um livro é uma pequena
vitória.
Considerado com o dia ganho Chuvisco
se encontra com o seu grupo de amigos bem diversos – LGBTTQ, negros e
praticantes de outros dogmas não cristãos. O autor abre espaço para outros
personagens importantes que compõe o principal – tem o doutor Charles
(falaremos dele no próximo parágrafo), Cael – aspirante a ator e Amanda, irmã
de Cael e confidente de Chuvisco.
Desde criança, Chuvisco sofre com
o problema de catarses criativas. Seu cérebro cria coisas que pode não existir
– como poderes de super-força, agilidade, objetos inanimados ganham vida. Então
seus pais o levam a um psicanalista, o doutor Charles ou professor X. Digamos
que esse personagem é muito importante para Chuvisco, pois é ele que ajudará o
protagonista “domar” as catarses e a moldar seu caráter heroico. O professor X ganha esse nome graça a paixão
que Chuvisco tinha por X-men. O psicanalista propõe que o seu paciente ganhe um
nome super, e no final acabou sendo esse mesmo.
“Minha imaginação foi rebelde desde que me conheço por gente. Bonecos de pelúcia que se arrastavam pelo chão, olhos pendurados em fiapos e feltro, e escalavam minha cama como zumbis. Tudo isso fazia parte do meu dia a dia.”
Depois de uma noite com os
amigos, Chuvisco resolve sair do pub e caminhar até em casa. Dalí alguns
quarteirões avista uma cena que mudará a história do protagonista – ele avista
um grupo da Guarda-Branca (grupo que se intitulam justiceiros e defensores dos
bons costumes) agredindo um rapaz homossexual. Chuvisco vendo que as agressões
só parariam com a morte daquele rapaz, resolve partir para briga com os
“justiceiros”. Nesse momento o leitor é levado para dentro de uma realidade
paralela, onde o protagonista usa seus superpoderes para livrar a vida do
agredido que no momento estava semiconsciente e a própria vida – pois a
Guarda-Branca desenhou um alvo grande com cor de sangue em Chuvisco.
Chuvisco ganha uma armadura a lá
homem-de-ferro, com direito a inteligência artificial e tudo. Dando um show de
ataques e contra-ataques, o protagonista parece prevalecer perante seus
algozes, porem isso tudo está acontecendo na realidade paralela, numa mente
criadora de catarses. Ele de fato prevaleceu diante daquele grupo da
Guarda-branca, mas depois o leitor ver o estrago que eles fizeram no
protagonista.
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Santa Morte por Nela Dunato |
Já no hospital, os amigos de Chuvisco
ainda estão impressionados que sozinho ele deu conta de cinco membros da Guarda-Branca
e saiu vivo. É nesse hospital que o protagonista se encontra com a figura etérea
chamada de “la Muerte” (quando os ataques contra as minorias começaram, alguns
insurgentes criaram uma facção para combater essa opressão. “Santa Muerte”, tem
o objetivo denunciar os ataques que a população sofre por meio de vídeos gravados
e upados na internet. Tida por muitos como simples lenda urbana, “la Muerte”
aconselha Chuvisco de que não confie em ninguém, alguns médicos podem lhe entrega
para a Guarda-Branca).
O grupo da Guarda-Branca que
quase mata Junior e Chuvisco, são encontrados mortos poucos dias depois e
descobriu-se que eles eram iniciantes na seita. A prova de iniciação era matar o
LGBT.
A partir daí começa uma
verdadeira corrida pela sobrevivência de Chuvisco, pois a Guarda-Branca está no
seu encalço e Chuvisco que procurava pelo garoto que tinha salvado e sumiu. As buscas
do herói levaram a onde ele queria está – perto de “Santa Muerte”.
As coisas desandam e tudo acaba
de maneira catastrófica!
A escrita de Eric Novello é
simples, rica e imersiva. A toda hora eu me perguntava se o que estava acontecendo
estava acontecendo de fato ou era uma catarse do protagonista. Até que um dos
amigos de Chuvisco chegava a falar que era real, a situação de fato estava
acontecendo. Pensando agora esse foi o que mais me prendeu ao livro - as
catarses de Chuvisco.
Pessoalmente a história de Chuvisco
é real (você conhece uma pessoa que já sofreu por ser quem era? Eu conheço e é LGBT).
Pois o protagonista não tem qualquer poder especial, não é alguém que tenha
tido grandes conquista na vida, é uma pessoa normal – isso vale a história,
para mim.
Novello aproveitou o Time certo para lançar o livro. Eu não
sei há quanto tempo foi escrito, mas a sua publicação veio em tempos em que se
falar muito em literatura especulativa – como Margeret Atwood. O livro “Ninguém
Nasce Herói” pode ser além de uma distopia Young/Adult, pode ser facilmente
colocar na estante de literatura especulativa.
Sobre o autor
Eric Novello é escritor, tradutor e roteirista com formação no Instituto Brasileiro de Audiovisual. Nesceu no Rio de Janeiro em 1978 e mora em São Paulo desde 2007. É autor de Exorcismo, amores, e uma dose de blues
(Gutemberg, 2014), A sombra no sol (Draco,
2012), Neon Azul (Draco, 2010), e Historias de noite carioca (Lamparina,2004).