Titulo original: Purple Hibiscus
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Paginas: 324
Editora: Companhia das Letras
Tradutora: Julia Romeu
Em “Hibisco roxo”, Kambili faz parte de uma família rica, por
causa de seu pai, Eugene, ser dono de uma fábrica de produtos alimentícios, um
jornal influente e um político importante. Eugene atribui o seu sucesso e sua
riqueza ao deus cristão, isso faz com que ele ao longo do tempo se torne casa vez
mais fervoroso e opressor para sua esposa e filhos.
Chimamanda nessa parte faz uma crítica ao capitalismo cristão,
pois Eugene usa de sua força física para punir a família. E tudo começa quando
o seu filho mais novo, Jaja, não se recusa a receber a comunhão na igreja. Tal
ato impensável para o chefe de família o deixou tão furioso que o mesmo quase
mata a própria esposa e a filha.
Aqui vai um pouco história: a Inglaterra colonizou a África
no século XIX, mas o continente africano só conseguiu sua independência em 1960.
No romance, os personagens cristãos são brancos e tem nomes europeus. Também Eugene
é descrito como forte, alto, viril, rico e imponente – essa figura representa a
colonização cristã, como a autora representa no personagem uma “nova religião”;
e o avô de Kamibili, Papa-Nnukwu, por ser um personagem velho já no limite da
vida e que ainda acredita nos deuses africanos representa a fé de um povo calejado.
A tia leva os sobrinhos se aproximarem do avô tido pelo pai
um pecador por não acreditar nos preceitos cristãos. Kambili ver aquele senhor
quase no final da vida e muitas vezes sente inveja pela paz que o ancião
transparece, sua harmonia deixa a adolescente tranquila e o seu amor pela vida contagia
os sobrinhos. (Papa-Nnukwu é o meu personagem favorito)
No romance o clima ameniza com a chegada de Ifeoma, irmã
mais velha de Eugene. Quando o governo começa a investigar meios de comunicação
para evitar um possível boicote ao seu presidente – tão opressor quanto o pai
de Kambili -, o chefe da família não ver outra opção para os filhos senão os
deixar com a irmã caçula. Depois de muita insistência de Ifeoma para livrar os sobrinhos
das agressões de Eugene, Kambili e Jaja vão passar o natal com a tia e os
primos.
Vale ressaltar que Ifeoma é uma mulher de meia de idade, mãe
solteira de três filhos e professora da universidade. Apesar de também ser
cristã, ela é mais tolerante que o irmão mais velho. Por isso ela mantem um ótimo
relacionamento com o pai, Papa-Nnukwu, e tem seus altos e baixos com o irmão
mais velho.
A história alcançar outro tom quando os primos
recém-chegados na casa da tia percebem o clima de liberdade e segurança. Isso faz
com que Jaja se rebele contra o seu pai e sua opressão. Mas ainda na pele de
Kambili, vemos sua primeira paixão – um jovem padre, Amadi. O leitor ver o
olhar sensível de uma adolescente que quase não fala por medo, quando encontra
sua primeira paixão.
O amor de Kambili a mantem sã, e de uma jovem apagada pela
opressão do pai passa a ser uma adolescente ativa e destemida. A protagonista, quando
se apaixona, questiona-se a realidade em que vive – a repressão causada em uma
casa grande, com empregados e coisas caras; e o lar de um apartamento quente cheio
de gente sorrindo e gritando umas com as outras.
Veja, o amor de Kambili não é levando as vias de fato, porem
é vivenciado pela plenitude de um olhar juvenil – amor à primeira vista. Por conta
de sua sanidade, a protagonista se ver na incumbência de amadurecer e sustentar
a família, pois todos os membros foram destruídos pela fé intolerante de Eugene.
Um breve adendo: os ambientes descritos por Chimamanda no
livro são muito característicos de locais tropicais ou subtropicais. O leitor
brasileiro irá se identificar fácil com a ambientação e isso irá contribuir com
uma maior imersão na leitura.
Trata-se de uma obra profunda de alto conhecimento, violência
e descobertas. Quando Chimamanda separa dois universos no romance, o leitor passa
a ver, sob o olhar intimista de uma adolescente, a opressão existente em casa e
na rua. Os efeitos de uma colonização branca cristã marca na pele cicatrizes
que as vezes o tempo não toma conta de levar consigo. A percepção do primeiro amor
e o amadurecimento do corpo e sobretudo mente.
Esse livro foi o segundo lido, tendo sido o primeiro “Americanah”
(ainda meu preferido).
Sobre a autora (tirada do livro)
Chimamanda Ngoze Adichie nasceu em Enugu, na Nigeria, em 1977. Sua Obra foi traduzida para mais de trinta línguas e apareceu em inúmeros periodicos, como as revistas New Yorker e Granta. Além de Meio sol amarelo (2008) - vencedor do Orange Prize e adaptado ao cinema em 2013 -, é autora também dos romances Hibisco roxo (2011) e Americanah (2014) - best-seller vencedor do National Book Critics Circle Awards - e da coleção de contos No seu Pescoço (2017), bem como dos ensaios Sejamos Todos Feministas (2015) e para educar crianças feministas (2017), todos publicados no Brasil pela Cia. das letras.
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